Daniel e Lino Barros – LBF

Daniel e Lino Barros – LBF

“Cada vez se vê mais o reconhecimento do que se faz em Portugal e isso deve-se a muita luta, muito mérito dos nossos empresários e tudo o que está à volta, as associações, mas acima de tudo muita perseverança”

Daniel e Lino Barros - LBF

Corria o ano de 1968 quando Lino Barros, decide criar a empresa LBF. 34 anos depois, o filho do fundador, Daniel Barros, entra para a empresa e conta à MN, a aventura de 50 anos de história de uma empresa que se destaca pela capacidade de adaptação aos mercados e pela procura constante e contínua satisfazer as necessidades do cliente.

 

Como e quando nasce a LBF?

A LBF nasce, fruto do seu sócio fundador, o meu pai, Lino Leal de Barros, e a aventura dele começou em 1968, juntamente com os meus tios, em casa dos meus avós. Depois, foi mudando de instalações e passados uns anos mudou para onde estamos agora. 13 anos volvidos, passou de nome individual para sociedade, passando a designar-se Lino Barros e Ferreira Lda.

A LBF tem vindo a crescer: em 1986, colocamos o primeiro polimento e fomos dos pioneiros; em 1991, a nossa primeira máquina de CNC; em 2002, foi quando eu ingressei; 2004, começámos as obras de ampliação, em que de 4.200 m2 passamos para 9.000 m2. Terminámos em 2005, na altura eram vários edifícios todos interligados.

Em 2007, entrámos no mercado internacional e consolidámo-nos ainda, em 2007, com Espanha e, depois, em 2008, com França e Angola, e a partir daí foi sempre uma escalada, em que nós de 2006 a 2011 nós passamos de 90% clássico e 10% moderno para 90% moderno e 10% clássico e passamos de 90% nacional para 90% internacional. Foram anos em que mudámos completamente o paradigma da empresa.

 

Em 2018 completaram 50 anos de existência. Quais os maiores desafios que a LBF enfrentou nestes 50 anos? E quais os que se deparam diariamente?

Infelizmente, a LBF, em 2015 sofreu um incêndio em que, depois de 6 anos de crescimento constante, tivemos um ano difícil. Acabámos por perder tudo, 80% da empresa ardeu e os 20% que ficaram mal se puderam aproveitar. No entanto, nós acreditámos, os clientes acreditaram, e 2016 acabou por ser o nosso melhor ano para a LBF em termos de volume de vendas. Apesar de tudo, acabou por ser a confirmação de que os clientes estão connosco e confiaram, e isso foi muito gratificante.

 

A LBF tem design próprio?

Sim. No fundo, a empresa divide-se em três grandes áreas: design próprio, design de outras empresas, onde fazemos aqui apenas a parte produtiva, e depois a parte do contract.

 

O que vos distingue no setor do mobiliário?

A nossa capacidade de adaptação aos mercados, a procura constante e contínua de chegar ao cliente, de satisfazer verdadeiramente as necessidades dele, fazendo móveis que, embora tenham que ser industrializados, porque temos que ser competitivos, sejam ao mesmo tempo pessoais, personalizáveis, individualizados, quase peças únicas.

 

Apesar da industrialização, há ainda espaço para a personalização?

Nos mercados onde estamos e onde estamos a ganhar terreno é precisamente por aí que nós entramos.

 

Que mercados são?

Neste caso, os últimos mercados que angariámos e que estamos a aumentar exponencialmente são o alemão, suíço, belga, luxemburguês e holandês. São mercados com bastante poder económico, bastante industrializados, ou seja, não vamos ensinar-lhes nada, mas temos uma particularidade que eles não têm: nós adaptamo-nos e conseguimos ser flexíveis ao ponto de personalizarmos praticamente cada móvel que sai daqui, através de uma panóplia muito grande de opções que damos.

 

Qual o vosso mercado principal?

O nosso principal mercado continua a ser o francês.

 

Podemos continuar a pensar que o mercado francês é uma referência?

O mercado francês, para mim, continua a ser uma referência, embora eu pense que seja um mercado consumido. Fizemos muita concorrência uns aos outros, enquanto os italianos vão para um mercado e afirmam-se dentro desse mercado, nós vamos para um mercado e “afundamo-nos” a nós mesmos. É um mercado que está muito esgotado para nós, algo que não acontece, por exemplo, no mercado alemão, que tem muito potencial para crescermos lá.

 

O que é que somos, enquanto portugueses, numa feira, ao lado de italianos?

Como eles. Nesta altura, tirando toda a parte comercial, somos iguais. Um móvel português num stand italiano, não se veem diferenças, pelo contrário e em tudo: design, apresentação… mas não é um mercado fácil para entrar.

 

O Norte da Europa, por exemplo, consome de maneira diferente do Sul da Europa?

Muito diferente. O mercado inglês é um mercado mais de madeira, o lacado moderno ainda não é para eles, preferem antes algo mais tradicional; o mercado Espanhol é vanguardista, já a Alemanha, pelo contrário, é mais tradicional, se bem que nós conseguimos já colocar algumas que rompam um pouco à tradição. Para mim, o mercado “da moda” é o mercado francês, o que às vezes também se traduz em excesso, com o acrescento de detalhes.

Continuando a falar de mercados, mas fora deles, a China é um potencial?

Sim, é, e com tanto poder que pode tornar-se um problema. Pela dimensão, essencialmente, tal como os Estados Unidos. Mas tudo depende de como se entra. Nós somos uma empresa produtiva, não somos tanto de marca, de peça única. O que nós fazemos, embora seja um produto de gama médio-alto – alto, é um produto de alguma rotação, não é um produto exclusivo. O mercado chinês, devido à sua dimensão, é muito interessante.

 

E a América?

Nós temos produtos no Canadá, nos Estados Unidos também, mais decoradores… se bem que para mim não é vender, dessa forma tenho clientes até no Camboja. Estamos a falar de ir para um mercado onde temos um representante ou uma loja, os agentes, os distribuidores, ou seja, termos algum peso, por assim dizer.

 

Considera que as marcas têm um papel importante nos mercados?

No passado tivemos três marcas, uma das quais em parceria com um espanhol, acabou por desaparecer. Continuamos com a LBF, mas temos a Clara Home que é a marca que queremos despoletar, como marca comercial, enquanto que a LBF é a marca produtiva. A marca é importante, no nosso caso é um objetivo, sim, mas não prioritário. Tudo depende de onde nos situamos. Quando entramos em volume normalmente é isso que acontece, não é a nossa marca que é reconhecida. No seio, entre os profissionais, aí sim, a LBF é reconhecida pelos principais players.

 

Considera que Portugal caminha de uma forma positiva, as pessoas, lá fora, dão valor ao que é português?

Sim. Existe notoriedade sobretudo na Europa. Uma das nossas armas é a qualidade, fazemos design e face aos nossos principais concorrentes mais barato que eles, nomeadamente italianos, alemães e espanhóis.

Neste momento, estamos “na moda” e cada vez se vê mais o reconhecimento do que se faz em Portugal e isso deve-se a muita luta, muito mérito dos nossos empresários e tudo o que está à volta, as associações, mas acima de tudo muita perseverança. Ainda me lembro de ir para feiras relativamente pequenas em que nos perguntavam se éramos italianos e quando dizíamos que éramos portugueses, nem sabiam sequer onde ficava, pensando ser uma parte de Espanha.

 

De olhos postos no futuro… o que falta fazer?

Eu sempre pensei: eu quero ser bom; e enquanto eu não for o melhor – sem demagogia – teremos sempre coisas pelas quais lutar. É isso que eu passo a toda a minha equipa: nós temos de querer ser melhor todos os dias.